Evento

Encontro debate relações entre autismo e psicologia da música

Por Thiago Cardassi Publicado em: 12/04/2023 15:04 | Última atualização: 12/04/2023 20:04

As relações entre autismo e a psicologia da música são os temas abordados na segunda parte do evento Encontro de Conscientização sobre o Autismo, promovido pela Universidade Federal de Rondonópolis (UFR). Em dois dias de atividades, o psicólogo Bruno Gonçalves dos Santos conduzirá o minicurso Autismo e Estrutura Psíquica: reverberações a partir da Psicologia da Música e a exibição do filme SOMOƧ, projeto do autor sobre o mesmo tema. A iniciativa é promovida pela Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis (PROEXA) e pelo Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da UFR.

Os encontros serão realizados nos dias 12 e 13 de abril, às 19h, no auditório do bloco D. Nesta quarta (12), o minicurso percorrerá caminhos que apontam a capacidade musical na subjetivação humana, além de buscar entender os mecanismos envolvidos na psíquica autista, para articular uma proposta clínica e pedagógica que dialogue a relação entre fenômenos sensoriais da musicalidade com a organização do laço social. O objetivo da palestra interativa é mostrar que, por meio da musicalidade, o sujeito autista é capaz de se legitimar com seu uso próprio de linguagem, sincronizando os afetos através das sonoridades.

Já na quinta-feira (13), ocorrerá a exibição do documentário SOMOƧ, fruto de oito anos de pesquisa e parte da pesquisa de doutorado de Bruno, intitulada Música e Experiência Psíquica: Ressonâncias entre Autismo e Laço Social. As entrevistas que compõem o filme apresentam as reflexões e realidades de músicos, de profissionais da saúde mental e de familiares de pessoas autistas em mais de dez cidades sul-americanas, contemplando Brasil, Peru e Argentina. Logo após a exibição, será realizado um debate guiado pelas questões: você já tentou ouvir o silêncio? Que tipo de linguagem é a música? Que implicações a música tem na saúde mental? Qual a relação da música com o universo autista?

Bruno dos santos é doutor em Psicologia e Sociedade pela UNESP e foi aluno do curso de psicologia da Universidade Federal de Rondonópolis (na época, UFMT) entre 2007 e 2012. Atuou como pesquisador convidado na Universidad de Buenos Aires (Argentina) na área da Musicoterapia e, além de psicólogo, também é músico, produtor fonográfico e diretor de som, tendo produzido e lançado o álbum solo sobreVivências, disponível em todas as plataformas de streaming.

O evento é gratuito e não exige inscrição prévia. Todos os públicos podem participar. Para isso, basta comparecer ao Auditório do bloco D da Universidade Federal de Rondonópolis, às 19h dos dias 12 e 13 de abril. O endereço do campus é Av. dos Estudantes, 5055 – Cidade Universitária. A atividade será certificada e os participantes assinarão a lista de presença durante o evento.

A programação faz parte do 1º Encontro de Conscientização sobre o Autismo, realizado em celebração ao mês de conscientização do Autismo (abril azul) e tem como proposta construir um espaço de diálogo e inclusão no qual seja possível colocar em debate a experiência e práticas profissionais com pessoas autistas.

Sobre o Abril Azul

A campanha Abril Azul possui a missão de informar a sociedade a respeito da condição autista, combater discursos e práticas capacitistas e lutar contra a discriminação sobre os mais de 2 milhões de brasileiros que possuem algum grau do espectro autista. O mês foi escolhido em razão da celebração do Dia Mundial de Conscientização do Autismo (02/04), data definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007.

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), uma em cada 160 crianças apresenta transtorno do espectro autista (TEA). Apesar dos diferentes graus existentes e da dificuldade no diagnóstico, tem-se observado um aumento dos casos pelo mundo, o que pode ser explicado pela conscientização cada vez maior da população, que busca se informar sobre o tema e acompanhar de perto o desenvolvimento de crianças e jovens à sua volta. Sendo assim, os debates sobre o Dia Mundial de Conscientização do Autismo são importantes para que mais pessoas tenham acesso à informações corretas e possam ser diagnosticadas precocemente, facilitando o acesso a terapias, as quais podem ser decisivas para seu desenvolvimento.

O transtorno do espectro autista (TEA) pode se manifestar de várias formas, mas geralmente é caracterizado por algum grau de comprometimento no comportamento social, na comunicação, linguagem, ou na reciprocidade socioemocional. Entre os sintomas também podem estar padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Entretanto, cada pessoa que vive com autismo será afetada em intensidades diferentes, resultando em situações bem particulares que variam de pessoa para pessoa.

Ao contrário de outras síndromes, como a síndrome de Down, o autista não possui características que podem ser identificadas apenas pelo olhar. Por esta razão, o autismo é considerado uma deficiência invisível, o que faz com que seja comum ouvir a expressão: “mas nem parece autista”. Esta frase é de caráter capacitista, pois nenhum autista é igual ao outro e cada um vai apresentar a diversidade do transtorno de forma única.

O capacitismo é a ideia de que as pessoas com deficiências, físicas ou mentais, são menos capazes do que outras nas quais se identificaria um suposto padrão normativo corporal e neurológico elencado como ideal ou desejável. Desta forma, aqueles que não se enquadram neste padrão não estariam habilitados para participar plenamente das atividades sociais.

Este tipo de pensamento é preconceituoso e equivocado, uma vez que a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que define o Estatuto da Pessoa com Deficiência, prevê em seu artigo 4º que “toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”.

A Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) preza pela inclusão, diversidade e respeito aos direitos humanos e considera essa postura preconceituosa e inaceitável. Essa visão reforça uma compreensão limitada a respeito das capacidades e da singularidade das pessoas, impedindo que elas possam exercer plenamente suas potencialidades. Acreditamos que a educação, o diálogo e a conscientização devem ser utilizadas como ferramentas para desconstruir estereótipos e combater o preconceito em todas as suas formas. Desta forma, reafirmamos nosso compromisso com a diversidade e inclusão de pessoas com autismo e outras deficiências.