Saúde

Abril Azul é mês dedicado à conscientização do autismo

Por Thiago Cardassi Publicado em: 31/03/2023 20:03 | Última atualização: 03/04/2023 11:04

O mês de abril é dedicado à conscientização do autismo. A campanha tem o objetivo de informar a sociedade a respeito desta condição, combater discursos e práticas capacitistas e lutar contra a discriminação sobre os mais de 2 milhões de brasileiros que possuem algum grau do espectro autista. Chamado de Abril Azul, o mês foi escolhido em razão da celebração do Dia Mundial de Conscientização do Autismo (02/04), data definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007.

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), uma em cada 160 crianças apresenta transtorno do espectro autista (TEA). Apesar dos diferentes graus existentes e da dificuldade no diagnóstico, tem-se observado um aumento dos casos pelo mundo, o que pode ser explicado pela conscientização cada vez maior da população, que busca se informar sobre o tema e acompanhar de perto o desenvolvimento de crianças e jovens à sua volta. Sendo assim, os debates sobre o Dia Mundial de Conscientização do Autismo são importantes para que mais pessoas tenham acesso à informações corretas e possam ser diagnosticadas precocemente, facilitando o acesso a terapias, as quais podem ser decisivas para seu desenvolvimento.

O que é o autismo?

O transtorno do espectro autista (TEA) pode se manifestar de várias formas, mas geralmente é caracterizado por algum grau de comprometimento no comportamento social, na comunicação, linguagem, ou na reciprocidade socioemocional. Entre os sintomas também podem estar padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Entretanto, cada pessoa que vive com autismo será afetada em intensidades diferentes, resultando em situações bem particulares que variam de pessoa para pessoa.

O professor do curso de Medicina da Universidade Federal de Rondonópolis, André Bacchi, aponta três pontos principais nos quais é necessário prestar atenção e se aprofundar quando falamos sobre autismo. O primeiro deles é a importância de se criar estratégias para favorecer a inclusão de pessoas com autismo em todos os aspectos da nossa sociedade, incluindo na educação superior. O segundo, é entender que a genética cumpre um papel bastante complexo no autismo e que existem alguns estudos que sugerem os fatores genéticos e ambientais que possam de alguma forma contribuir na condição. O terceiro ponto, é compreender que o autismo não é uma condição patológica e que, portanto, os medicamentos não visam curar o autismo.

O professor, que é farmacêutico e doutor em ciência fisiológicas, explica que “[…] a ideia do uso dos medicamentos é apenas para trazer mais qualidade de vida para as pessoas com autismo para que elas possam controlar alguns sintomas que tragam mais prejuízo no seu comportamento, mais prejuízo na sua função em geral. E na sua capacidade de se adaptar a esse ambiente. Dentro desse contexto de tratamento, a gente tem também que enaltecer a importância da psicoterapia e do acompanhamento de um psicólogo que faz intervenções comportamentais que trazem inúmeros benefícios para essa adaptação da pessoa com autismo”, conclui André Bacchi.

Capacitismo e padrões normativos

Ao contrário de outras síndromes, como a síndrome de Down, o autista não possui características que podem ser identificadas apenas pelo olhar. Por esta razão, o autismo é considerado uma deficiência invisível, o que faz com que seja comum ouvir a expressão: “mas nem parece autista”. Esta frase é de caráter capacitista, pois nenhum autista é igual ao outro e cada um vai apresentar a diversidade do transtorno de forma única.

O capacitismo é a ideia de que as pessoas com deficiências, físicas ou mentais, são menos capazes do que outras nas quais se identificaria um suposto padrão normativo corporal e neurológico elencado como ideal ou desejável. Desta forma, aqueles que não se enquadram neste padrão não estariam habilitados para participar plenamente das atividades sociais.

Este tipo de pensamento é preconceituoso e equivocado, uma vez que a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que define o Estatuto da Pessoa com Deficiência, prevê em seu artigo 4º que “toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”.

A Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) preza pela inclusão, diversidade e respeito aos direitos humanos e considera essa postura preconceituosa e inaceitável. Essa visão reforça uma compreensão limitada a respeito das capacidades e da singularidade das pessoas, impedindo que elas possam exercer plenamente suas potencialidades. Acreditamos que a educação, o diálogo e a conscientização devem ser utilizadas como ferramentas para desconstruir estereótipos e combater o preconceito em todas as suas formas. Desta forma, reafirmamos nosso compromisso com a diversidade e inclusão de pessoas com autismo e outras deficiências.

Diálogos de conscientização sobre o autismo

Pensando em todas estas questões, na próxima terça-feira (4), a Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) promove o 1º Encontro de Conscientização sobre o Autismo. O objetivo da ação é construir um espaço de diálogo no qual seja possível colocar em debate a experiência e práticas profissionais com pessoas autistas. O evento ocorre a partir das 13h30, no Auditório do bloco A do campus universitário, e é uma forma de dar visibilidade às discussões do Abril Azul, campanha nacional orientada para conscientizar a população sobre a necessidade de inclusão social das pessoas autistas.

No período da tarde, serão apresentadas algumas das dificuldades enfrentadas pelos autistas e que dificultam seu acesso à educação. A ideia é levantar questionamentos e apontar maneiras por meio das quais é possível promover a inclusão no ambiente escolar. A mesa de especialistas será composta pela neuropsicopedagoga, Ana Cristina Viana Corá; pela psicopedagoga, Maurycéia Leitte; e pela psicóloga, Priscila Duarte.

Pela noite, às 19h30, serão abordadas dúvidas a respeito de genética e da utilização de fármacos. A mesa redonda também deve discutir quais evidências já foram encontradas nas pesquisas científicas mais recentes que são capazes de oferecer uma melhor qualidade de vida para pessoas autistas. Os palestrantes da noite serão a farmacêutica, Aluna de Araújo e Marcondes; o farmacêutico e professor do curso de medicina, André Bacchi; e a bióloga e professora do curso de medicina, Claudinéia de Araújo.

O evento é uma iniciativa da Diretoria de Assuntos Estudantis (DAE), da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis da UFR (PROEXA), e foi pensado como uma forma de também celebrar o Dia Mundial do Autismo (2 de abril), data criada pela Organização das Nações que neste ano possui como tema: Educação inclusiva e de qualidade para todas as pessoas.

O evento é gratuito e aberto a toda comunidade de Rondonópolis e região. Qualquer pessoa que tiver interesse pode realizar sua inscrição por meio do sítio eletrônico do evento, onde também é possível conhecer mais detalhes sobre o perfil dos palestrantes. Os participantes que realizarem a inscrição receberão um certificado de comprovação da presença no 1º Encontro de Conscientização sobre o Autismo.

1º ENCONTRO DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O AUTISMO
4 de abril (terça-feira), no Auditório do Bloco A da UFR
1ª mesa às 13h30 e 2ªmesa às 19h30
Gratuito e certificado
Inscrições em: www.even3.com.br/1encontroautismoufr