Pesquisa da UFR ganha destaque na Produção de Sementes para a Restauração da Amazônia e do Cerrado
Estudo recente publicado na Restoration Ecology fornece importantes insights sobre a variabilidade espacial e temporal na produção de sementes de espécies arbóreas nativas na zona de transição Cerrado-Amazônia. Liderado por Aline Ferragutti e uma equipe de pesquisadores, o estudo oferece informações valiosas que podem apoiar os esforços de restauração ecológica, particularmente em áreas severamente impactadas pelo desmatamento e degradação da vegetação nativa.
A pesquisa está alinhada com a Década da ONU para a Restauração de Ecossistemas (2021-2030), que convoca esforços globais para prevenir, interromper e reverter a degradação dos ecossistemas. Essa iniciativa global ambiciosa destaca a urgência de restaurar vastas áreas de ecossistemas degradados, incluindo a Amazônia e regiões adjacentes, essenciais para a biodiversidade, regulação da água e estabilidade climática.
Principais Descobertas:
O estudo analisou dados de dispersão de sementes de 139 espécies de árvores coletados ao longo de oito anos na região de transição Cerrado-Amazônia, uma área reconhecida por sua complexidade ecológica e vulnerabilidade às atividades humanas. Essa região faz parte da Bacia do Xingu, que enfrenta crescente pressão do desmatamento, expansão agrícola e mudanças climáticas, tornando a restauração de áreas degradadas essencial.
Os pesquisadores descobriram que os padrões de dispersão de sementes variaram significativamente ao longo do tempo e do espaço. Espécies de ambos os biomas apresentaram períodos prolongados de dispersão de sementes, especialmente no final da estação seca e início da estação chuvosa, quando as condições para o estabelecimento dos propágulos são ideais. Curiosamente, as espécies de ambos os biomas exibiram padrões semelhantes, o que ressalta o potencial de uso dessas espécies de forma intercambiável em projetos de restauração.
O estudo também destacou que variáveis climáticas, como temperatura e precipitação desempenham um papel importante na regulação da dispersão de sementes. Quase dois terços das espécies estudadas mostraram uma correlação significativa entre a dispersão de sementes e as condições climáticas, indicando que as mudanças climáticas em curso podem perturbar os padrões naturais de dispersão de sementes, com possíveis consequências negativas para os esforços de restauração.
Implicações para a Restauração:
A restauração de áreas degradadas na zona de transição Cerrado-Amazônia é uma parte crucial dos esforços mais amplos para mitigar o desmatamento no Cerrado e na Amazônia e aumentar a resiliência dos ecossistemas. A oferta de sementes é essencial para iniciativas de restauração em grande escala, e esta pesquisa oferece soluções práticas para melhorar as estratégias de coleta de sementes. Compreendendo o tempo e a variabilidade espacial da dispersão de sementes, redes de sementes como a Rede de Sementes do Xingu podem otimizar os cronogramas de coleta para garantir um suprimento contínuo de sementes para projetos de restauração ao longo do ano.
A Rede de Sementes do Xingu, parceiro-chave nesta pesquisa, é um coletivo de mais de 500 coletores de sementes de 24 grupos da região, incluindo diversas comunidades indígenas, urbanas e de agricultores familiares. A rede desempenha um papel essencial no fornecimento de sementes para a restauração ecológica, gerando também renda para as comunidades locais. Ao incorporar as descobertas deste estudo, a Rede de Sementes do Xingu pode aumentar sua capacidade de atender à crescente demanda por sementes nativas, que deverá aumentar à medida que o Brasil intensifica seus esforços para cumprir as metas de restauração estabelecidas na Lei de Proteção da Vegetação Nativa, no Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (PLANAVEG), e em outros acordos para o mesmo fim.
Relevância para a Década da ONU para a Restauração de Ecossistemas:
As descobertas deste estudo são particularmente oportunas, pois o mundo busca soluções inovadoras para restaurar ecossistemas sob a Década da ONU para a Restauração de Ecossistemas. A zona de transição Cerrado-Amazônia no Brasil é um ponto crítico de biodiversidade, e é lar de espécies únicas de plantas e animais que estão cada vez mais ameaçadas pelas atividades humanas. A restauração eficaz nessa área é crucial não apenas para a preservação da biodiversidade, mas também para a manutenção de serviços ecossistêmicos vitais, como a ciclagem da água, o sequestro de carbono e a regulação climática.
Os esforços para restaurar áreas degradadas nessa região podem servir de modelo para outras regiões tropicais que enfrentam desafios semelhantes. O foco do estudo na importância da variabilidade espaço-temporal da dispersão de sementes ressalta a necessidade de estratégias de restauração adaptadas regionalmente, levando em conta as condições climáticas locais e os padrões reprodutivos específicos das espécies.
Fortalecimento das Comunidades Locais e Próximos Passos:
Os autores do estudo reforçam a necessidade da continuidade do investimento nas redes de sementes e no envolvimento das comunidades locais nos esforços de restauração. Ao colaborar com comunidades indígenas e tradicionais, as iniciativas de restauração podem garantir que uma gama diversificada de espécies nativas seja utilizada nos projetos de reflorestamento, aumentando a resiliência ecológica das áreas restauradas e o sucesso dessas iniciativas.
À medida que a atenção global se volta para a restauração de ecossistemas degradados, esta pesquisa oferece esperança de que, por meio de esforços de restauração direcionados e informados, possamos reverter os impactos da degradação de terras em um dos ecossistemas mais vitais do mundo.
Acesse o artigo na integra e conheça o impacto do estudo nos biomas