Saúde

Dezembro vermelho é dedicado à prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)

Por Thiago Cardassi Publicado em: 13/12/2022 18:12 | Última atualização: 13/12/2022 19:12


A campanha nacional de saúde do mês de dezembro é dedicada à prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), principalmente aquela causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). A campanha foi oficialmente instituída pela Lei nº 13.504/2017 e é direcionada para os jovens em idade sexualmente ativa, grupo de maior exposição às ISTs. Entre as atividades previstas na lei estão a iluminação de prédios públicos com luzes vermelhas, a promoção de eventos, palestras educativas e a veiculação de campanhas de mídias.

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos. Elas são transmitidas, principalmente, por meio do contato sexual sem o uso de camisinha masculina ou feminina, mas também pode ocorrer a transmissão vertical, quando passadas da mãe para a criança durante a gestação, o parto ou a amamentação. A prevenção e tratamento das pessoas com ISTs melhora a qualidade de vida e interrompe a cadeia de transmissão dessas infecções. Neste sentido, a informação é uma das mais importantes armas no combate às doenças e ao preconceito que existe em torno delas.

A médica e professora da faculdade de medicina da UFR, Sharon Marjorie, alerta que toda relação íntima desprotegida oferece risco de contração de ISTs, uma vez que pessoas aparentemente saudáveis podem estar infectadas sem que tenham conhecimento. Os números de contaminação estão cada vez mais crescentes de forma generalizada e não apenas em grupos específicos. “IST não está escrito na testa”, enfatizou. Como exemplo, a professora citou o caso da sífilis, no qual os exames de rastreio, prática obrigatória em gestantes, apontam uma presença de 10% à 15% nas mulheres. Muitas vezes o diagnóstico é uma surpresa, pois algumas destas doenças podem ser silenciosas. Do mesmo modo, existem infecções que não causam nenhum sintoma nos homens, mas que nas mulheres podem causar doenças e vice-versa, explicou.

O Ministério da Saúde mantém um portal eletrônico com informações sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis onde reforça que não importa idade, estado civil, classe social, identidade de gênero, orientação sexual, credo ou religião, já que toda relação íntima pode ser fonte de contaminação. Por isso o hábito do uso do preservativo é fundamental. Sempre que houver uma relação desprotegida é preciso estar atento ao surgimento de sintomas e realizar os testes rápidos para que seja feita a investigação, diagnóstico e tratamento de possíveis doenças. Estes exames de testagem podem ser realizados gratuitamente nos postos de saúde da rede pública e são capazes de identificar os vírus da sífilis, hepatite b, hepatite c e HIV. Entretanto, a professora Sharon explica que a maioria das ISTs possuem um tempo de incubação entre a contaminação e o desenvolvimento da doença que pode durar meses. “O ideal quando você tem uma relação sexual desprotegida e acha que pode ter contraído alguma IST, é procurar um posto de saúde e já começar a profilaxia pós-exposição. A professora esclarece que os resultados dos exames são sigilosos e que o paciente não precisa explicar detalhes a respeito de como aconteceu a contaminação.

O professor e psicólogo, Márcio Neman, vinculado ao curso de Psicologia da UFR, aponta que “muitas pessoas tem receio de fazer os exames e constatar que foram infectadas. Elas pensam de forma equivocada: ‘se eu não fizer, eu não sei’. Esse posicionamento pode levá-las a tomarem menos cuidado nas próximas relações sexuais”. Por outro lado, algumas pessoas podem ficar muito ansiosas antes da testagem e, por esta razão, aconselha-se que levem um amigo para oferecer suporte. De acordo com o professor, acima de tudo, deve-se ter em mente que “estes são espaços em que o sigilo de informações é absolutamente garantido. É um direito de todos”. Além disso, caso a pessoa realmente esteja infectada ,”quanto antes tiver o diagnóstico, mais efetivo será o seu tratamento e a melhora na sua qualidade de vida”, explicou.

40 anos de luta, pesquisa científica e combate à desinformação

Dentre todas as ISTs, aquela causada pela contaminação do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é o foco da campanha Dezembro Vermelho. Esse vírus, do tipo retrovírus, ataca o sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo de doenças. Quando não tratado, pode levar ao desenvolvimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Cerca de quatro décadas depois do surgimento do HIV, os cientistas ainda não encontraram uma cura. Entretanto, foram capazes de produzir medicamentos cada vez mais seguros e eficazes para tratamento e prevenção da doença.

Atualmente, estão disponíveis na rede pública de saúde diversos tipos de antirretrovirais que dificultam a multiplicação do vírus, impedindo que o sistema imune seja fragilizado. Estes medicamentos são controlados, porém distribuídos de forma gratuita à população sob o acompanhamento e monitoramento de médicos especialistas. Os bons resultados obtidos fazem com que o combate às ISTs se tornasse uma das políticas públicas de saúde mais eficientes no Brasil, tendo como protagonista o Sistema Único de Saúde (SUS).

Na rede pública de saúde estão disponíveis profilaxias pré-exposição (PrEP) e pós-exposição (PEP). No portal eletrônico do Ministério da Saúde existem informações detalhadas a respeito destes medicamentos. De forma simplificada, as profilaxias são métodos que bloqueiam alguns “caminhos” que o vírus usa para infectar o organismo. A PrEP é utilizada antes, para diminuir os riscos e prevenir a contaminação. Já a PEP é um recurso de emergência utilizado após a exposição de risco, preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição e, no máximo, em até 72 horas.

Em Rondonópolis, as unidades básicas de saúde podem oferecer as profilaxias ou encaminhar o paciente para o Serviço de Atenção Especializada (SAE), unidade de saúde própria para o diagnóstico e tratamento de infectocontagiosas como hanseníase, tuberculose, HIV/Aids, hepatites virais e também crianças com microcefalia. De acordo com a secretária de saúde do município, Izalba Albuquerque, a SAE – Rondonópolis chega a atender 7 mil pessoas todos os meses e se tornou uma referência de qualidade de atendimento no estado de Mato Grosso. A equipe de trabalho da unidade esclarece que as pessoas não precisam ter receio de frequentar o serviço especializado. “Aqui atendemos diversos tipos de doenças infectocontagiosas, as ISTs são apenas algumas delas. Ninguém deve temer buscar ajuda, mas, ao contrário, não buscar ajuda alguma”.

O professor Márcio Neman pondera que muita coisa mudou nos últimos 40 anos desde o surgimento do HIV, principalmente com relação ao acesso à informação, à eficácia dos tratamentos, à capacitação de profissionais de saúde e à a articulação entre políticas públicas de saúde e segmentos específicos da sociedade civil, tal como movimentos sociais, instituições de ensino, e influenciadores sociais. Hoje, muitos youtubers trazem ao público relatos de sua própria vivência com o vírus e apresentam uma realidade impensada nos anos 80. Uma pessoa vivendo com HIV que tome os devidos cuidados possui uma qualidade de vida similar à qualquer pessoa que faz uso de medicamentos controlados.

Ambos os professores explicam que, assim como um diabético ou hipertenso, pessoas vivendo com HIV também precisam tomar sua medicação diariamente. Isso garantirá seu bem-estar e qualidade de vida. As pessoas que seguem as prescrições médicas e realizam corretamente os tratamentos não desenvolvem sintomas, não transmitem a doença e, o mais importante: interrompem a cadeia de transmissão da infecção, contribuindo para a diminuição da taxa de disseminação do vírus. Por este motivo, campanhas como o Dezembro Vermelho que incentivam a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são tão importantes, afirmam.

Contato:

O Serviço de Atendimento Especializado (SAE – Rondonópolis) está temporariamente atendendo na Rua João Pessoa, 693 – Centro, Rondonópolis (na porta lateral da clínica São Marcos)

Os exames de testagem devem ser solicitados nas unidades básicas de saúde. Caso necessário, o paciente será encaminhado para a SAE.