Institucional

Dezembro vermelho é dedicado à prevenção e tratamento do HIV e outras ISTs

Por Thiago Cardassi Publicado em: 04/12/2024 15:12 | Última atualização: 04/12/2024 15:12


A mobilização nacional Dezembro Vermelho tem o objetivo de chamar a atenção para as medidas de prevenção, assistência e proteção dos direitos das pessoas vivêndo com o vírus HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis. A campanha foi oficialmente instituída pela Lei nº 13.504/2017 e é direcionada para os jovens em idade sexualmente ativa, grupo de maior exposição às ISTs. Entre as atividades previstas na lei estão a veiculação de campanhas nas mídias, a promoção de eventos, palestras educativas e a iluminação de prédios públicos com luzes vermelhas de forma a chamar atenção das pessoas para o propósito da campanha.

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos. Elas são transmitidas, principalmente, por meio do contato sexual sem o uso de camisinha masculina ou feminina, mas também pode ocorrer por transmissão vertical, quando passadas da mãe para a criança durante a gestação, parto ou amamentação. A prevenção e tratamento das pessoas que convivem com ISTs melhora a qualidade de vida e interrompe a cadeia de transmissão dessas infecções. Neste sentido, a informação é uma das mais importantes armas no combate às doenças e ao preconceito que existe em torno delas.

A médica e professora da faculdade de medicina da UFR, Sharon Marjorie, alerta que toda relação íntima desprotegida oferece risco de contração de ISTs, uma vez que pessoas aparentemente saudáveis podem estar infectadas sem que tenham conhecimento. Os números de contaminação estão cada vez mais crescentes de forma generalizada e não apenas em grupos específicos. “IST não está escrito na testa”, enfatizou. Como exemplo, a professora citou o caso da sífilis, no qual os exames de rastreio (prática obrigatória em gestantes) apontam uma presença de 10% à 15% nas mulheres. Muitas vezes o diagnóstico é uma surpresa, pois algumas destas doenças podem ser silenciosas. Do mesmo modo, existem infecções que não causam nenhum sintoma nos homens, mas que nas mulheres podem causar doenças e vice-versa, explicou a médica.

O Ministério da Saúde mantém um portal eletrônico com informações sobre as Infecções Sexualmente Transmissíveis onde reforça que não importa idade, estado civil, classe social, identidade de gênero, orientação sexual, credo ou religião, já que toda relação íntima pode ser fonte de contaminação. Por isso, o hábito do uso do preservativo é fundamental em toda relação íntima. Sempre que ocorrer uma relação desprotegida é necessário manter atenção ao surgimento dos sintomas caracterísitcos e realizar os testes rápidos para que seja feita a investigação, diagnóstico e tratamento de possíveis doenças.

Os exames de testagem de ISTs podem ser realizados gratuitamente nos postos de saúde da rede pública e são capazes de identificar os vírus da sífilis, hepatite B, hepatite C e do HIV. Entretanto, a professora Sharon explica que a maioria das ISTs possuem um tempo de incubação entre a contaminação e o desenvolvimento da doença que pode durar meses. “O ideal quando você tem uma relação sexual desprotegida, e acha que pode ter contraído alguma IST, é procurar um posto de saúde e já começar a profilaxia pós-exposição. A professora reforça que os resultados dos exames são sigilosos e que o paciente não precisa explicar detalhes a respeito de como aconteceu a contaminação.

O psicólogo e professor do curso de Psicologia da UFR, Márcio Neman, aponta que “muitas pessoas tem receio de fazer os exames e constatar que foram infectadas. Elas pensam de forma equivocada: ‘se eu não fizer, eu não sei’. Esse posicionamento pode levá-las a tomarem menos cuidado nas próximas relações sexuais”. Por outro lado, algumas pessoas podem ficar muito ansiosas antes da testagem e, por esta razão, aconselha-se que levem um amigo para oferecer suporte. De acordo com o professor, acima de tudo, deve-se ter em mente que “estes são espaços em que o sigilo de informações é absolutamente garantido. É um direito de todos”. Além disso, caso a pessoa realmente esteja infectada ,”quanto antes tiver o diagnóstico, mais efetivo será o seu tratamento e a melhora na sua qualidade de vida”, explicou.

40 anos de luta, pesquisa científica e combate à desinformação

Dentre todas as ISTs, o foco da campanha Dezembro Vermelho é aquela causada pela contaminação pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Este vírus ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Quando não tratada, a infecção pode levar ao desenvolvimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Cerca de quatro décadas após o surgimento do HIV, cientistas ainda não encontraram uma cura. Entretanto, medicamentos cada vez mais seguros e eficazes para o tratamento e prevenção da doença tem sido desenvolvidos.

Atualmente, estão disponíveis na rede pública de saúde antirretrovirais que dificultam a multiplicação do vírus, impedindo que o sistema imune seja fragilizado. Estes medicamentos são controlados, porém distribuídos de forma gratuita à população sob o acompanhamento e monitoramento de médicos especialistas. Os bons resultados obtidos fizeram do combate às ISTs uma das políticas públicas de saúde mais eficientes no Brasil, tendo como protagonista o Sistema Único de Saúde (SUS).

Na rede pública de saúde estão disponíveis profilaxias pré-exposição (PrEP) e pós-exposição (PEP) que bloqueiam alguns dos “caminhos” que o vírus utiliza para infectar o organismo. No portal eletrônico do Ministério da Saúde existem informações detalhadas a respeito destes medicamentos e orientações sobre a prevenção combinada. A PrEP deve ser utilizada antes das relações de risco para prevenir a contaminação pelo HIV. Já a PEP é um recurso emergencial utilizado após uma eventual exposição de risco, preferencialmente nas primeiras duas horas e, no máximo, em até 72 horas após a exposição.

Em Rondonópolis, as unidades básicas de saúde podem oferecer as profilaxias ou encaminhar o paciente para o Serviço de Atenção Especializada (SAE), unidade de saúde própria para o diagnóstico e tratamento de infectocontagiosas como hanseníase, tuberculose, HIV/Aids, hepatites virais e também crianças com microcefalia.

O professor Márcio Neman pondera que muita coisa mudou nos últimos 40 anos desde as primeiras infecçõe pelo HIV, principalmente com relação ao acesso à informação, eficácia dos tratamentos, capacitação de profissionais de saúde e articulação entre políticas públicas de saúde e segmentos específicos da sociedade civil, tal como movimentos sociais, instituições de ensino e influenciadores sociais. Hoje, muitas pessoas públicas, artistas e youtubers trazem ao público relatos de sua própria vivência com o vírus e apresentam uma realidade muito diferente dos anos 80. O psicólogo explica que, atualmente, uma pessoa vivendo com HIV que faça o uso adequado e permanente da medicação possui uma qualidade de vida similar à qualquer pessoa que faz uso de medicamentos controlados.

Ambos os professores esclarecem que, assim como um diabético ou hipertenso, pessoas vivendo com HIV também precisam tomar cuidados durante a vida que garantirãp seu bem-estar e qualidade de vida. Aqeles que seguem as prescrições médicas e realizam corretamente os tratamentos não desenvolvem sintomas, não transmitem a doença e, o mais importante: interrompem a cadeia de transmissão da infecção, contribuindo para a diminuição da taxa de disseminação do vírus. Por este motivo, campanhas como o Dezembro Vermelho que incentivam a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são tão importantes, afirmam.

A Organização das Nações Unidas (ONU) entende que é possível fazer com que a Aids deixe de ser um problema de saúde pública até 2030. O secretário-geral da ONU, António Guterrez, afirma que proteger os direitos humanos é a chave para atingir esse objetivo. Para isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu metas globais: ter 95% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas; ter 95% dessas pessoas em tratamento antirretroviral; e, dessas em tratamento, ter 95% em supressão viral, ou seja, com HIV intransmissível.

O Ministério da Saúde anunciou na semana passada (26) que o Brasil cumpre duas das três metas globais da ONU. Em 2023, dados são do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e a aids (Unaids) mostraram que o país alcançou o diagnóstico de 96% das pessoas vivendo com HIV. Além disso, 95% dessa população está com a carga viral controlada. Desta forma, o Brasil estabelece um marco internacional, alinhado à Organização Mundial da Saúde (OMS), às metas globais estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 e à iniciativa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para a eliminação de doenças nas Américas.

Contato:

O Serviço de Atendimento Especializado (SAE – Rondonópolis) está localizado na R. Pedro Guimarães, s/n – Santa Cruz, Rondonópolis
Telefone para contato: (66) 99233 – 4867
Os exames de testagem podem ser solicitados nas unidades básicas de saúde. Caso necessário, o paciente será encaminhado para a SAE.