Abertura da Aula Inaugural Segunda Licenciatura em Educação Especial Inclusiva
Clique no ícone para ativar as legendas do vídeo
[Descrição de cena: Imagem estática com o fundo branco, acima está escrito “Lapras – Laboratório de práticas do ICHS” e abaixo há um desenho em preto e velho com o rosto de diferentes pessoas, de diferentes etnias. Após a transição, outra imagem estática com o fundo branco. Acima encontra-se a imagem em desenho de uma árvore colorida seguida do nome PARFOR – Formação de professores. Centralizado está escrito “Educação Especial Inclusiva – Segunda Licenciatura” em letras coloridas. Ao fundo de todo vídeo se escuta a música “Ser diferente é normal”, cantada por Gilberto Gil e Preta Gil]
[Descrição de cena: fotografia de quadro pessoas sentadas à mesa, sendo um homem (que irá fazer a fala inicial), uma mulher negra de cabelos curtos, um homem branco e calvo, um homem branco com cabelos e barbas escuros. A mesa possui um forro vermelho e há um vaso de planta verde no centro]. Boa tarde! Meu nome é Antônio Morais, sou um homem branco, gordo, afeminado de cabelos pretos. Estou usando camisa cinza mescla, calças jeans azul escuro e sandálias de couro trançado com um bom nordestino. Estou posicionado à frente do auditório, à esquerda de quem assiste.
[Descrição de vídeo: a mesma configuração da fotografia acima descrita]. Eu penso que esse momento para gente é muito importante. Eu cheguei a Rondonópolis vai fazer três anos muito em breve, ainda em estágio probatório, e eu lembro que eu fiquei muito chocado ao chegar à cidade, porque nas ruas principais da cidade a gente não vê circular diversidade. E isso me preocupou. E entrando em contato com as escolas e com as redes os números que me foram passados também me assustaram, porque seria um décimo das pessoas com deficiência que estão nas escolas. Mas e os estudantes onde estão? E eu fiquei pensando na minha responsabilidade social e o quê eu poderia fazer enquanto professor que trabalhou muitos anos com educação inclusiva e que pesquisa hoje educação inclusiva. Então alguns movimentos aconteceram nesse percurso, como a criação de um grupo que a gente tem algumas das pessoas que estão aqui presentes são participantes deste grupo, com professores e professoras das redes públicas de ensino, mas há também outros professores participando e a sociedade também, que é bem-vinda para participar. Onde a gente discute textos e questões de linguagens, de ensino e aprendizagem de pessoas com deficiências. A gente entende que a percepção de inclusão tem que ser para além disso, para além das questões de deficiências, distúrbios e transtornos, mas a gente ainda entende que, de toda a diversidade de pessoas que existem, parece que as pessoas que têm alguma diferença, no sentido de deficiência, de transtorno, de distúrbio, são as pessoas que estão mais sofrendo na sociedade, são as pessoas que menos aparecem na sociedade. E é por isso que a gente tem discutido questões muito específicas, mas entender que uma educação inclusiva é uma educação para toda e cada pessoa. A escola precisa ser, como os estudos vem dizendo, hospitaleira. Porque não basta mais garantir o acesso, pois o acesso existe ali por força de lei e toda a inclusão que é meramente por força de lei apenas aumenta os processos excludentes. Porque a gente vai apenas rotular as pessoas, afastar as pessoas e marcar a diferença. É preciso sim reafirmar a diferença, no sentido de dizer “eu existo”, “eu estou aqui”, “essa pessoa existe”, “ela está aqui”, mas a gente também precisa entender que a escola tem que dar conta, em alguma medida, de todas as pessoas que estão lá. Isso não é responsabilidade exclusiva dos docentes, isso eu deixo sempre muito marcado nas minhas falas, porque é muito comum a gente jogar a responsabilidade do sucesso e do insucesso da educação nas costas ou na conta dos professores, e não é assim que funciona. Como Talita falou ali na abertura para gente, é responsabilidade de todas as pessoas, as leis estão aí e o poder de polícia é de cada um, de cada pessoa da sociedade. Nós temos que cobrar a efetivação dessas políticas e dessas leis, para que a gente tenha de fato uma escola inclusiva. E aí, o que é que eu posso fazer? A gente não dá conta de abarcar tudo! Então, a universidade pensou “vamos pensar na formação de professores”. Mas neste curso existem também gestores e a gente tem a esperança que o que a gente trouxer para discutir na formação vá causar mudanças significativas na educação da cidade. Porque? Porque a gente precisa de uma mudança de cultura institucional, a gente precisa que o próprio sistema funcione de maneira diferente e a gente precisa que as pessoas que estão em sala de aula estejam sensibilizadas para a diversidade de estudantes, mas não que os professores e professoras saibam trabalhar com os estudantes que tenham deficiências. Estão prestando atenção no que eu estou dizendo? Porque é impossível, humanamente impossível, um professor que precisa conhecer o seu conteúdo, e pensar formas de trabalhar o seu conteúdo, também saber com muita tranquilidade e certeza de que forma ele vai trabalhar com todos os estudantes que têm em sala. Esse professor precisa de suporte. Que tipo de suporte a escola e o sistema dão pra gente? Nós precisamos de equipes multidisciplinares nas escolas, que para além de identificarem estudantes que tenham alguma deficiência ou dificuldade e encaminhar para laudo, porque o laudo não vai dizer muito, possam de fato dar apoio aos docentes, aos professores para que se possa pensar o ensino-aprendizagem em sala de aula. Porque há pessoas que são especialistas em pensar as questões pedagógicas, as questões psicológicas, as questões de saúde e as questões sociais das pessoas com deficiências, transtornos e distúrbios. Então, é preciso que esses grupos existam nas escolas para dar suporte aos professores, mas também é importante que a gente entenda um pouco sobre a diversidade de estudantes que a gente tem em sala de aula e que, dentro das nossas possibilidades, nós possamos trabalhar para avançar numa educação que faça a diferença. E é nesse perfil, nessa perspectiva que o curso vai surgir… é um trabalho de muitas mãos pra montar essa proposta na expectativa que a gente deixe uma contribuição para a cidade de Rondonópolis e para o Estado de Mato Grosso e que a gente espera que seja permanente. Então, desejo a vocês boas vindas, espero que o curso seja de fato significativo pra vocês e declaro a aula inaugural aberta.