Taxidermia é utilizada como aliada na educação ambiental
A Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) recebeu uma equipe da 2ª Companhia de Polícia Militar de Proteção Ambiental do Estado de Mato Grosso para realizar a taxidermização de uma onça-pintada encontrada morta em Nova Mutum. O episódio é considerado raro, uma vez que a espécie está considerada em situação de vulnerabilidade no Brasil. O procedimento atraiu a atenção de estudantes e de curiosos que tiveram a oportunidade de acompanhar o trabalho.
A taxidermia é uma técnica de preservação de animais para mantê-los com a mesma aparência de quando estavam vivos. O processo não envolve maus-tratos e é realizado apenas em animais que já vieram à óbito por diferentes motivos. Geralmente, o procedimento utiliza vítimas fatais de atropelamentos ou que foram predados de forma ilegal por caçadores.
Os animais taxidermizados contribuem para o desenvolvimento de estudos científicos sobre a espécie a funcionam como meio de promover a educação ambiental. A professora do curso de Ciências Biológicas da UFR, Gisela Barbosa Sobral de Oliveira, doutora em Reprodução Animal, explica que o processo facilita a aproximação das pessoas com a fauna local. “Muita gente nunca teve oportunidade de ver uma onça de perto, saber o tamanho, a textura do pelo, o formato das pintas. Além disso, também é uma oportunidade única para os alunos e alunas aprenderem sobre esse processo de aproveitamento de um animal que morreu, pois a gente consegue aproveitar os ossos, a pele e até coletar material genético pra futuras pesquisas. Nada é desperdiçado”, esclarece a professora.
Taxidermia é uma palavra que significa, em grego, dar forma à pele. Existem registros desta prática que remontam ao Antigo Egito. Atualmente, o procedimento é utilizado pela Polícia Militar de Proteção Ambiental como instrumento pedagógico para promover ações de conscientização ambiental. A 3ª sargento da PM MT, Tania dos Santos Nogueira Silva, explica que a corporação desenvolve trabalhos educativos em toda região sul de Mato Grosso em escolas públicas e particulares, em entidades governamentais e empresas de iniciativa privada.
Tânia também é educadora ambiental e taxidermista. Ela conta que a exibição dos animais faz parte de uma estratégia para promover o conhecimento e a sensibilidade com a natureza. Ao observar de perto os animais é possível estabelecer uma maior receptividade para a absorção de temas sobre educação ambiental, tais como a conscientização de preservação dos ecossistemas, a responsabilidade ecológica e cidadã, e legislação brasileira específica.
“Muitas vezes esse é um contato único que aquela pessoa vai ter com o animal em toda a sua vida. Porque animais como esse são selvagens, então se ele estivesse vivo, ela jamais conseguiria chegar perto. Quando uma criança tem a oportunidade de tocá-lo, ela cria um vínculo com esse animal e passa a pensar nele de maneira diferente. Ela sabe que aquele animal existe e que ele precisa do meio ambiente equilibrado. E para manter o meio ambiente equilibrado, precisa da ação positiva do humano” comenta a sargento.
Procedimento atraiu a atenção de alunos e curiosos
A taxidermização da onça-pintada foi realizada no laboratório de zoologia dos cursos de bacharelado e licenciatura em Ciências Biológicas da UFR e atraiu a atenção de alunos de diversos cursos. Muitos aproveitaram a oportunidade para observar e aprender. A estudante Juliana Queija considera importante a possibilidade de acompanhar o trabalho dos policiais militares. “Nos ensina bastante sobre a educação ambiental e ajuda a gente também a aprender a conservar espécies. Se você conhece melhor o bicho, então, consequentemente, você cria um afeto e uma mentalidade de preservar. E eu acho bem legal porque é uma arte científica que você faz e que você também contribui”, afirma Juliana.
A escolha do laboratório da UFR se deu em virtude do tamanho do animal, demandando vários profissionais para trabalhar no procedimento. Além disso, a universidade já mantém há anos uma sólida parceria com a Polícia Militar. No ano passado, os PMs coordenaram um curso de introdução à taxidermia durante a programação da semana acadêmica do curso de Ciências Biológicas.
O procedimento é longo e complexo e pode levar meses até ser concluído, pois demanda recursos e a participação de diversas pessoas para atingir um bom resultado. A sargento Tânia explica que o trabalho inicia com a notificação da PM a respeito do óbito do animal. O corpo do animal é congelado ou conservado em etanol enquanto os insumos necessários para o procedimento são levantados.
Quando todo o material está pronto, é realizada a limpeza interna do animal e a aplicação de fungicidas, bactericidas e conservantes para preservar a peça. Uma estrutura de ferro é introduzida para dar sustentação ao corpo, que é preenchido com pó de serra e costurado na posição que irá permanecer. Logo após, tem início o processo de secagem que pode levar de 4 a 6 meses no caso de um animal de grande porte como esse.
O trabalho de taxidermização da onça-pintada durou a semana toda e foi realizado pelos taxidermistas e educadores ambientais Valdivino Rocha da Silva (3ª sargento da PM MT) e Tania dos Santos Nogueira Silva (3ª sargento da PM MT). Além disso, os PMs contaram com o apoio dos estudantes do curso de Ciências Biológicas da UFR, Juliana Alves Queija e Gustavo Araújo Monteiro Dos Santos, que também possuem a formação em taxidermia.
Exposição será realizada nesta quarta-feira (31)
A coleção de animais taxidermizados da UFR está disponível para visitas públicas de alunos de escolas que queiram conhecer a universidade e o curso de Ciências Biológicas. Estudantes da UFR que queiram conhecer o laboratório de zoologia podem solicitar uma visita e conhecer os materiais de estudo e pesquisa utilizados pelos alunos do curso. O laboratório fica localizado no bloco A do campus da UFR. Mais informações podem ser obtidas na secretaria do curso.
Uma exposição da onça taxidermizada está planejada para acontecer na próxima quarta-feira (31), no saguão do bloco A, das 8h30 às 10h e das 14h às 16h.