A Licenciatura em História realiza Aula de Campo na Comunidade Mutuca do Complexo Quilombola Mata Cavalo
Por Jocenaide M. Rossetto Silva
A Licenciatura em História/ICHS/Universidade Federal de Rondonópolis-UFR prioriza a formação de professores críticos e engajados em causas sociais, pois entende que o presente é composto por muitos cotidianos, que trazem as dores e as alegrias do passado. Na disciplina Antropologia, ministrada pela professora Dra. Jocenaide Maria Rossetto Silva, no 3º semestre do Curso, buscou-se na aula de campo na Comunidade Mutuca, realizada dia 02 de agosto 2024, “re-conhecer na Cultura Quilombola os elementos da Tradição, a luta pela permanência na terra e as formas de resiliência desenvolvidas pela comunidade”.
O Complexo Quilombola Mata Cavalo, município de Nossa Senhora do Livramento-MT, tem uma extensão um pouco maior que 13 mil hectares, sendo composto por seis comunidades: Mutuca, Aguaçú, Mata Cavalo de Cima, Mata Cavalo de Baixo, Ourinho e Capão Verde. Na atualidade, enfrenta problemas com a seca característica dos meses de junho ao final de setembro na região; está cercado por garimpos de ouro, que comprometem o lençol freático e ainda luta pelo direito à terra ancestral, que foi a Sesmaria Boa Vida e que data do início do século XVIII.
Os professores em formação foram acolhidos pelas irmãs Justina, Narcisa, Maria Renata e o irmão Germano. A família preparou o alojamento, as refeições, o roteiro pelas roças e a roda de conversa.
Foram momentos ricos de aprendizagens sobre plantar, cuidar, colher e transformar, visando alimentar a família e continuar a luta para permanecer na terra ancestral. Ao ser entrevistado pelos estudantes, o senhor Germano disse: “Eu não estudei em escola. Aprendi com meu pai a preparar a terra, plantar e colher. Mas, nossas crianças estudam aqui no quilombo e os jovens fazem faculdade. A Laura é advogada, é muito perseguida, mas continua lutando”. Ao ser inquerido sobre o fato que representa a luta pela terra, ele disse: “o mais importante é a união”.
Os professores em formação observaram então, que a união é a condição para subsistência, representada pelo muxirum (trabalho coletivo). Com essa prática, as famílias da comunidade Mutuca plantaram 80 mil pés de banana, mas também mandioca, cana-de-açúcar, milho, arroz e outros; construíram casas e cobriram com palha de coqueiro, assim como construíram a escola de alvenaria com recursos de uma embaixada internacional; cuidam do gado, da apicultura e também colhem a produção agrícola e transformam em farinha de mandioca, doce de banana, farinha de arroz, rapadura de cana, mel de abelha e muitos outros alimentos para o uso da comunidade e para comercializar.
Na Tradição o muxirum é condição para seguir com os dias de trabalho e os dias de festas. A principal é a Festa da Banana, realizada há 17 anos. Mas as famílias devotas também fazem “Festas de Santos” para honrar antigas promessas. Nas festas, a comunidade oferece gratuitamente a comida, como já faziam os antepassados, mas na atualidade vendem bebidas, alguns alimentos transformados, como o mel e outros…
Enfim, a aula de campo oportunizou a ampliação dos saberes dos estudantes para que se tornem professores-pesquisadores de temas do cotidiano e oralidades, questões que são relevantes para a reflexão histórica, contribuindo para História Local e Regional na interface com outras ciências, como é o caso da Antropologia. Mas, principalmente, para que tenham conhecimento das lutas e resiliências dos quilombolas no Mato Grosso.
Texto e fotos de autoria da Professora Dra. Jocenaide Maria Rossetto Silva
Publicação no site: Professora Dra. Elenita Malta Pereira